Há uma lenda bastante antiga que fala a respeito de um príncipe, que
pediu aos arautos do reino que proclamassem por todo o seu território
que ele se comprometia a casar-se dentro de um tempo determinado, com
a jovem que tivesse as mais belas mãos.
Essa proclamação alvoroçou todo aquele reino. Os maiores súditos
encheram-se de vaidade e de esperança, no sentido de verem suas filhas
sendo conduzidas pelas mãos do príncipe, numa cerimônia nupcial que
por certo mudaria o rumo e os recursos da família. Assim, todos
procuraram preservar e até cultivar da melhor maneira possível, a
beleza das mãos de suas filhas, não lhes permitindo realizar qualquer
atividade manual que porventura viesse marcá-las.
Certo dia, uma linda jovem que, como as demais, estava sendo poupada
das mais simples tarefas, a fim de lhe garantir a beleza das mãos,
cansou-se das horas ociosas e saiu a passear pelo campo. Andou bastante,
deleitando-se com tudo de belo que a natureza criara - céu azul,
montanhas, relva verde, flores e um regato com águas frescas e
cristalinas.
Ao se aproximar da água, viu um infeliz carneirinho preso nas
reentrâncias de uma cerca feita de pedras brutas. Ele carecia de socorro
urgente. Olhou então para as suas mãos, que conservava aveludada, e
depois reparou o animalzinho, já dilacerado pela luta. A piedade venceu.
Entretanto, salvando o animal, suas mãos foram cruelmente atingidas por
ferimentos tão graves que as cicatrizes profundas nunca mais puderam ser
removidas. Fez tudo o que lhe foi possível, porém inutilmente. Estava
então convencida de não ser aquela que o príncipe haveria de escolher;
mas, nem por isto se tornou infeliz.
Quando, no tempo aprazado, o príncipe começou a percorrer o reino para
consumar a escolha, conforme proclamação amplamente divulgada, ele viu
aquela moça de semblante tão terno, expressões despretensiosas, porém,
com as mãos deformadas pelos sulcos que as marcavam. Ainda assim o
príncipe se deteve falando com ela e foi então que ficou sabendo por
que aquilo lhe acontecera. Sentiu-se maravilhado com a bravura da jovem
e foi por isso que ele a amou tão profundamente, ao ponto de
transformá-la em sua rainha...
Autor não mencionado
Enviado por Angela Crespo
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